Vida e morte no celular
- escritoraednamendo
- 8 de out. de 2022
- 2 min de leitura
08/10/2022 #conto

Vida e morte no celular #conto
Dirigia a moto e, ao mesmo tempo, olhava para o celular. Motoboy fazia muitos anos, ele se sentia invencível, quase um super-herói pelas ruas e avenida da cidade. Não sofrera um único sequer acidente. Não só ele olhava o celular enquanto dirigia, mas um tanto mais de outras pessoas.
Ele estava preocupado com a namorada, que brava não respondia suas mensagens. Ontem à noite, ao saírem juntos, mal chegaram ao bar, ela cismou que ele olhava para outra mulher. Tomou o seu celular e começou a procurar mensagens no WhatsApp. A briga começou sem ter hora para terminar.
Ele nem conhecia a tal mulher do bar. Se ela olhou para ele, ele não tinha culpa nenhuma. Claro que a moça era bonita, linda, ele percebeu com uma olhada fugaz, com o rabo dos olhos. Sabia que se olhasse mesmo, seria confusão na certa com sua namorada.
Sentou-se de costas para a moça, propositadamente para não comprar briga. Não deu certo. A noite virou um inferno. Ele deixou a namorada em casa. Desde então, mandava mensagens sem parar para ela. Parado no semáforo que estava vermelho, procurou uma resposta para as suas inúmeras mensagens de perdão, por algo que não fez, mais ou menos.
Sentiu que recebeu uma mensagem, olhou o celular no próximo sinal vermelho. Era o patrão dando uma bronca pelo WhatsApp, a entrega estava atrasada. Nem esperou o sinal abrir, olhou para os dois lados, acelerou e voou para frente. O barulho da buzina do outro carro, nem o preocupou. Seguiu a toda velocidade para frente.
Parou novamente em outro sinal vermelho. Olhou no celular e nada de resposta da namorada. Estavam juntos a três meses. Estava profundamente apaixonado. Nunca tivera uma mulher tão linda, tão brava e encrenqueira. Tinha ciúmes até da sua própria sombra. A vida dele com este novo amor se tornara um inferno.
O patrão mandou outra mensagem, entregar a encomenda rapidamente e voltar para pegar a próxima. Nem bem o sinal abriu e ele voou de novo para frente. A moto e a cabeça em alta velocidade, pensando na namorada e na entrega atrasada e urgente.
Não era só ele ao celular. Os motoqueiros e motoristas olhavam seus celulares também e mandavam mensagens enquanto dirigiam. O pedestre, hipnotizado com o celular na mão, atravessou a rua sem ver e quase foi atropelado. Nem as inúmeras buzinas o tiraram do transe.
O celular tremeu, anunciando uma nova mensagem. Ele ansioso olhou, veio uma mensagem dela: "Para de me aborrecer, está tudo terminado, não quero mais nada com você, traidor!"
O coração dele disparou, ele disparou também a moto para frente. Mal viu o sinal ficar vermelho, seguiu em frente, voou rumo ao cruzamento! Outro carro vinha em alta velocidade cortando o cruzamento apressado também.
Ele não ouviu a buzina, não ouviu ou viu nada!
A vida virou um filme em câmera lenta...
Edna Mendonça #conto #VidaeMorteNoCelular
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